Recenzja Jolly New Songs – O domínio dos deuses
Com quatro álbuns em seis anos, os polacos Trupa Trupa têm-se afirmado como um dos mais estimulantes e sólidos colectivos de rock, aliando um som muito próprio a uma constante, mas serena, cavalgada por entre psicadelia e electricidade quase anarquista.
«Jolly New Songs» é um disco carregado de ironia, desde o título ao modo como combina acidez melódica com uma especie de corrosão texturada das malhas de guitarra, que alternam descargas de energia com a placidez da corrente dos rios em manhãs ensolaradas: seguem o seu percurso, calmamente, com a certeza firme e imperturbável do caminho, adornando as toneladas de lixo que têm de contornar na sua viagem. As vozes surgem entre a fúria e o quase-falseto, comprimidas por uma secção rítmica que rarefaz os espaços e propõe deambulações inesperadas, próximas do art-rock mais erudito, ainda que revolto pela crueza de uma abordagem directa e inescapável.
Aqui e ali, assistimos aos Trupa Trupa a piscarem o olho a uma pop dissonante, hilariante, de coros esgazeados e com uma beleza esventrada por delírios psicóticos, que desenvolvem para momentos grandiosos, de efeito sonoro inacreditável. E assim, de fio a pavio, «Jolly New Songs» é um álbum de escuta obrigatória, pois sacode alguns cânones tradicionais e abre fendas naquilo que julgávamos ter como certeza no contexto da música rock de credo experimental.